Foto por @pashaduh de nappy.co


Especialista alerta sobre as consequências que o medo e o isolamento social podem causar na vida das pessoas


A Pandemia ocorrida devido ao novo coronavírus pode afetar a saúde emocional das pessoas. O As Carolinas conversou com a psicóloga Renata Bueno, para entender quais são esses efeitos e o que se pode fazer para reduzir os danos psicológicos ocasionados pelo medo e insegurança que assolam a população diante desse cenário.

Como especialista, como você avalia os efeitos da Pandemia referente ao Covid-19 no emocional das pessoas? 

Resposta: Esta situação pode trazer diversos efeitos relacionados à saúde emocional das pessoas. Destaco  o medo, o estresse, a ansiedade, a solidão, o isolamento emocional e a tristeza, que são sentimentos mais comuns e atingem maior parte da população. O medo, por exemplo, é  necessário pois serve como um sinal de alerta, fazendo com que as pessoas se preocupem com sua saúde e de seus entes queridos, a fim de terem os cuidados adequados para evitar contrair a doença. Porém, quando este medo acontece em excesso, acaba gerando estresse e ansiedade que prejudicam pessoas e até suas relações. O estresse agudo  resulta em sentimento de tristeza, medo da própria morte ou da morte de pessoas conhecidas, além de doenças físicas. Após esta fase de medo, inicia se outra que é a fase onde há o sentimento de solidão, impotência, irritação e mau humor, já que há a necessidade do isolamento social e as pessoas são privadas de sua liberdade, sendo obrigadas a se adaptarem a um novo cotidiano. 

São Paulo vem se preparando para a retomada de algumas atividades, como reabertura dos comércios. Você acredita que estes sentimentos poderão permanecer? 

Resposta: Os efeitos pós- pandemia terão muitos reflexos negativos na Saúde e na Economia. O sentimento de medo e ansiedade vão continuar presentes. As pessoas terão medo de retornarem às suas atividades, principalmente  devido ao fato de terem sido obrigadas a modificar suas rotinas para evitar um contágio, que poderia ser fatal e agora não tem nenhuma garantia de que não mais serão contaminadas, ou seja, correm risco e quando se corre risco é inevitável que o medo esteja presente. A ansiedade e a revolta também são sentimentos presentes nesta fase de readaptação à nova situação, inclusive para pessoas que sofreram perdas emocionais e/ou financeiras, pois muitas  delas, quando retomarem sua vida dita “normal”, tendo que superar essas perdas.  

Quais são as consequências desses efeitos? Poderia abordar aspectos físicos também ou apenas psicológicos? 

Resposta: A mudança de rotina e a readaptação ao convívio social são consequências do efeito da pandemia e arrisco afirmar que serão grandes desafios, já que por um longo período teremos ainda que evitar o contato mais próximo e  caloroso. O brasileiro é um povo bastante afetivo. Gostamos de beijinhos e abraços, contato físico, aperto de mãos e andar de braços dados, por isso, esta readaptação não será fácil, mas necessária. Além disso, a questão da saúde emocional, o controle da ansiedade, a insegurança, o estresse  serão questões comuns e recorrentes na vida da grande maioria. Já sobre os aspectos relacionados à saúde física podemos destacar o ganho de peso, a hipertensão arterial, o sedentarismo, as cefaleias ( dores de cabeça) recorrentes, os distúrbios de sono e também as possíveis sequelas sofridas por quem foi acometido pela COVID-19. Nos dois casos, tanto saúde emocional como a saúde física, é importante se atentar aos sinais de patologias.

E para as pessoas que já sofrem algum tipo de transtorno emocional?

Resposta: A readaptação será mais difícil e a necessidade de suporte terapêutico será ainda maior. É importante pensarmos que estas dificuldades atingem também o público infantil e adolescente, pois crianças ou jovens, que já possuírem uma  predisposição para desenvolver transtornos emocionais, poderão ser fortemente  atingidas neste momento, e então terão que lidar com questões difíceis relacionadas à saúde emocional por toda uma vida. Mas  se estiverem bem observadas, acolhidas e amparadas neste momento, será possível evitar o desenvolvimento ou o agravamento desses transtornos. 

Acredita que com o afrouxamento da política de isolamento tende minimizar esses efeitos? Por quê? 

Resposta: A retomada dos comércios e o afrouxamento do isolamento  podem ter reflexos diferentes em cada um, já que cada pessoa é única e possui uma história e carrega questionamentos e crenças próprias. Então, para algumas pessoas, este início de retomada poderá minimizar os efeitos emocionais causados pela pandemia, pois o fato de poderem sair de casa gera uma sensação de recuperação da liberdade que havia sido temporariamente perdida, ou uma sensação de alívio e segurança por estarmos voltando a uma rotina mais próxima a vivida anteriormente. Mas isto tem dois lados: positivo e  negativo. Será positivo por possibilitar a sensação de alívio e liberdade, o que colabora para a redução dos sentimentos negativos. Mas negativo pela falsa sensação de que “tudo voltou ao normal”, pois contribuirá para diminuição da atenção voltada aos cuidados relacionados à higiene e distanciamento social. 

Entretanto para outras pessoas, os efeitos não serão minimizados com o afrouxamento do isolamento e nem com a retomada do comércio, pois, devido ao fato de ficarem um longo período confinados, acompanhando noticiários que informam o número de mortes e descrevem  o caos na saúde pública diariamente,  ou ainda por terem perdido entes queridos para a COVID 19, estas poderão ficar inseguras para saírem às ruas e retomarem suas rotinas devido a uma sensação de falta de proteção, já que ainda não temos uma vacina sendo distribuída pela rede pública de saúde. 

Há algo que se pode fazer para minimizar o abalo emocional? 

Resposta: Não há como não sofrer abalo emocional, todos seremos afetados, cada um numa proporção, cada um de uma maneira, cada um com uma intensidade, mas todos sairão abalados desta situação. Porém, há a possibilidade de atenuá-los, claro que de acordo com a estrutura psicológica de cada um. Há algumas atividades, tarefas, atitudes que podem minimizar estes abalos e manter a nossa saúde mental. 

Quais dicas você deixa para as leitoras do As Carolinas para preservarem a saúde mental neste momento? 

Resposta: Vale sempre lembrar que estamos passando por um momento bastante difícil e cada um reagirá de uma maneira. Se você sentir que está muito difícil passar por este momento sozinha, busque ajuda de um profissional, hoje em dia existem alternativas como a psicoterapia online que pode te auxiliar em momentos de maior fragilidade. Saúde Mental  e Equilíbrio Emocional são tão importantes quanto a saúde física.


Renata Bueno, 41, é psicóloga formada pela FMU. Atua há 12 anos na área de psicoterapia. CRP 06/82.501