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Especialista fala sobre as dificuldades e orienta sobre como encontrar apoio


Criada em 1991, a campanha Agosto Dourado tem o objetivo de ampliar a conscientização sobre a importância do leite materno para o crescimento saudável dos bebês e crianças pequenas. No entanto, para muitas mulheres o ato de amamentar pode ser um dos maiores desafios do puerpério, seja por questões biológicas, sociais, ou até mesmo por experiências negativas, que geraram algum tipo de constrangimento.


Para falar sobre este assunto e trazer informações sobre onde buscar apoio, o As Carolinas conversou com a enfermeira neonatal Natália Vicente, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.


Por que campanhas como o Agosto Dourado são importantes?

Reposta: Campanhas como o Agosto Dourado são extremamente válidas, pois trazem o tema para o debate. E falar sobre amamentação ainda gera alguns tabus.  Precisamos desmistificar algumas crenças, naturalizar este processo tão importante para a relação mãe-filho e, principalmente, conscientizar e levar informações relevantes sobre o assunto. Embora com toda a evolução da ciência, ainda não existe nada artificial que se compare ao padrão ouro que o leite materno possui, suas propriedades são essenciais para o bebê, exclusivamente até os 6 meses de idade.


Quais são as dificuldades - tanto físicas como psicológicas - que as mulheres em fase de amamentação encontram?

Resposta: As principais dificuldades físicas, normalmente, estão ligadas à dor na hora de amamentar, seja por fissura, mastite (inflamação da glândula mamária) e outros problemas de ordem fisiológicas. A maioria destes problemas podem ser evitados com informações - tanto no período pré natal como no pós natal - sobre ordenha, posicionamento, pega correta do bebê no seio e amamentação em livre demanda. Acredito que os problemas de ordem psicológica e emocional são relacionados ao sentimento da mulher de ‘dar conta de tudo’, inclusive de ser a principal provedora do alimento do seu bebê.


Onde buscar ajuda e informação para amenizar a situação?  

Resposta: Essas informações podem ser adquiridas na UBS durante o pré natal, por exemplo. O nosso serviço de saúde pública conta com uma assistência gratuita e interessante neste aspecto. Com visitas domiciliares da equipe multiprofissional: enfermeira, médica, nutricionista todas disponíveis para fazer esse acompanhamento pós natal. 

Então, caso precise de ajuda para entender melhor, busque auxílio com profissionais de saúde, ainda há profissionais consultores neonatais que podem auxiliar neste processo, tanto de amamentar como de conhecer as demandas do mais recém chegado à família.


Sobre o apoio familiar ou de pessoas próximas, qual a importância e como isso deve ser feito?

Resposta: Importante lembrar que esta mãe não está sozinha, ela precisa se sentir acolhida e ter suas dúvidas sanadas. Portanto, falar sobre as dificuldades é o primeiro passo para solucioná-las. Esta mulher precisa de uma rede de apoio efetiva, seja do marido, uma amiga, familiares e pessoas dispostas a prestar apoio neste momento. Para algumas mulheres amamentar pode ser fácil, para outras um pouco mais difícil e está tudo bem! Mas sempre é possível facilitar o processo de amamentação, tornando ele um momento prazeroso de interação da mãe com o bebê.


Existem relatos de mulheres que passam por algum tipo de constrangimento pelo fato de estar alimentando seu filho. Existe algo que possa ser feito para acabar com este tipo de violência?

Resposta: Quanto ao constrangimento relatado por algumas mulheres sobre amamentar em local público, acredito que seja um caminho longo até que todos entendam a naturalidade deste momento. Não existe fórmula certa, mas quanto mais pessoas se calçarem de informação e replicarem, melhor! E quando acontecer esse tipo de situação, que possamos fortalecer a naturalidade que é amamentar e dar apoio emocional a esta mulher, mostrar que ela não está sozinha e a causa não é apenas dela, estamos todas juntas na luta pela amamentação.


Sobre os bancos de leites, como as mulheres que têm leite em excesso podem colaborar?

Resposta: O desejo de doar leite é algo muito precioso. Ele servirá de alimento a muitos recém nascidos, em especial os prematuros. E certeza que quem recebe o leite agradece imensamente cada ml doado. A forma mais segura é consultar o site da Fiocruz e procurar o local mais próximo de você. Lá também é possível encontrar orientações de ordenha e armazenamento deste leite a ser doado.


Gostaria de acrescentar algo que considere interessante mencionar?

Resposta: Mães, o primeiro passo para amamentar é acreditar que dará certo. Seu leite não é fraco, ele é o que existe de melhor para o seu bebê, não se cobre demais, seja gentil com você, busque apoio de pessoas que sejam otimistas e respeitem suas dúvidas e seus limites. Os profissionais de saúde estarão sempre disponíveis para te auxiliar e tirar suas dúvidas, mesmo que possam parecer simples. Não se compare a ninguém, o processo de amamentação pode ser diferente para você, isso não é um problema e com ajuda e muito carinho será possível construir uma linda relação, um momento inesquecível entre você e seu bebê!







Natália Vicente, Enfermeira especialista em saúde pública e emergências neonatais e pediátricas.




Valéria Ferreira